vou guardar esse pontinho pra você.

meu celular com a tela toda riscada reflete a luz da televisão que está ligada há horas e eu nem notei. de repente, o celular toca. e como uma típica estabanada, deixo ele cair. bateria para um lado, aparelho para o outro, o chip deve ter ido para debaixo da cama e o coração foi parar dentro do meu estômago. recolho os pedaços, tentando achar todas as peças. só não encontrei minha respiração porque ela desapareceu quando a tela piscou. só precisava montar o celular de novo e retornar a ligação antes que pensem que eu não quis atender. que você pense, aliás. porque se for outra pessoa isso não me importa. ligo o celular e me deparo com os emotions que aparecem no início, só pra dar um ar de alegria, mas não acredito mais nisso. naquele momento só acreditei em você dizendo que ligaria. de repente poderia ser você.

- Mãe, você pode parar de ligar no meu celular, a bateria tá acabando!
- Eu só queria falar da sua consulta.
- Depois você me conta, você sabe que detesto médico.
- Não posso falar agora já que tô falando com você?
- Mas eu disse que a bateria tá acabando, estou esperando uma ligação.
- Ligação importante? Alguma entrevista de emprego?
- Importante pra mim, ué. Mãe, por favor, desliga esse telefone que eu não tô achando meu carregador.
- Tá bom, mais tarde a gente se fala.
- Meu deus, depois a gente vê, desliga isso que só tem um pontinho de bateria. Olha o que você fez, tinham dois pontos antes de você ligar!
- Tudo bem! Tô desligando.
- Tá, tá, tá. Beijo.

e desligo desesperada com só um pontinho piscando, confundindo as vinhetas da TV com uma nova mensagem. mas nunca tem mensagem suas. as que tinha eu apaguei. tudo bem. mesmo que você não mande nada, vou guardar esse pontinho pra você. deixo os demais pontos pra você gastar com quem tenha você totalmente por inteiro.

não tenho nem o que falar. foi assim que aconteceu. só devo desculpas à minha mãe. 
desculpe, mãe.

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