eu cresci com a minha família, num quintal cada qual com o seu cantinho. eu tenho tantas recordações boas que é difícil citar todas. certas coisas nunca vão sair do meu coração. como quando eu dormia com minha prima, como quando eu morri de ciúmes quando ela começou a namorar. como quando fazíamos aniversário surpresa pra vó, como quando todos os domingos estávamos juntos na casa da vó. como quando eu chegava em casa e tinha sopa da vó, arroz doce da vó, amor da vó. aquela bagunça, aquela coisa gostosa. vovó foi embora e já vai fazer dois anos. é engraçado como as coisas numa família mudam quando uma pessoa se vai.
mas a gente vai levando e se acostumando com outros hábitos, nossos e dos outros. as crianças cresceram. a vida é corrida, eu não vejo durante a semana quem mora do meu lado. e é uma pena não poder passar mais tempo com quem eu cresci e sempre convivi. tudo bem que família é um pé no saco, mas estou prestes à perder isso de novo. dois pedaçinhos de mim estão prestes à ir embora. estou feliz porque as pessoas conseguiram realizar sonhos que sempre almejaram. mas é como se eu tivesse ficando sozinha num quarto escuro, sem ninguém. vai ficando mais vazio, um silêncio que incomoda esse lugar. e aquela lembrança de todas as bagunças que vivi a minha vida toda, num mesmo lugar ficam cada vez mais fortes.
a conclusão que tiro disso tudo é que as coisas vão se desfazendo com o tempo. e nem tem culpa de "gente" nisso tudo. outras coisas simplesmente acontecem. me resta ficar muito feliz por tudo que vivi nesse lugar. e me resta agradecer vovó, por ter criado todo esse vínculo que gerou muita confusão, hoje engraçada, mas que melhor que tudo isso, gerou muito amor.
Saudades.
